segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Baú de Escritos

Estou gostando muito de ler uma escritora, ela é jovem, tem a minha idade, tem dois livros publicados e pelo que vi até agora, ela já fez um monte de coisas, escreveu colunas, mediou debates, encontros culturais, uma série de coisas bacanas e é colunista de uma revista muito bacana, chama-se Carol Teixeira.
Acabei de ler um texto dela, onde ela contava como foi que chegou até quem ela é hoje, de como começou sua paixão pela escrita etc, quando li, pensei... mas que história parecida com a minha!?!
Por que será que também não segui minha paixão pela escrita? por que sempre a guardei em gavetas? Sim, é verdade que sempre ganhava os concursos de redação das escolas que estudei e já tive um conto premiado publicado em um livro de escola. 
Também é verdade que meus amigos, ou melhor, alguns deles, gostam de ler o que escrevo.
E mais verdade ainda que eu amo escrever tanto quanto ler. Mas acho que faltou incentivo, uma diferença muito grande entre eu e esta escritora a qual estou fã. Ela conta numa entrevista que foi sempre muito incentivada pela mãe. 
Meus pais nunca me incentivaram declaradamente, mas o fizeram, me possibilitando o acesso a tantos livros e sendo exemplos de pessoas que leram muito, muito mesmo.
Lembro-me com a exatidão como se fosse a minutos atrás, eu pequena ansiosa desenhando letras em todos os papéis que via pela casa, podia ser o avesso de um pacote de cigarros hollywood do meu avô, ou o papel do saco de pão da padaria, e corria, literalmente corria para a minha mãe, que era professora  de português na esperança desesperada que as minhas letras naqueles pedaços de papéis tivessem formado alguma palavra. Eu ainda não sabia escrever. Mas a pressa era tanta, que eu não conseguia esperar; Lembro quando uma vez ela me disse rindo: olha! aqui você quase escreveu o nome do vovô Hélio, Dani!
Lembro também, que um dia vi na TV um programa que dizia que se a pessoa escrevesse palavras em vermelho e letras de forma e fosse mostrando todos os dias e falando em voz alta o que estava escrito à bebês, eles aprenderiam a ler!!!! Briguei com minha mãe por ela não ter feito isso comigo. 
Naquela época era moda as crianças pularem de série para ficarem mais "adiantadas" na escola, e minha mãe como professora era terminantemente contra, dizia que isso traumatizava as crianças, que tudo tinha seu tempo de ser aprendido e que não se devia pular etapas... ah... mas eu queria tanto ler...
Até que finalmente eu cheguei ao pré... com 6 anos! E então finalmente a tia Vera pode me ensinar a somar corretamente as letras do meu papel de pão para enfim.... resultarem em palavras!
Não existiu aluna mais ávida do que eu. O que faltava de entusiasmo e entendimento nas aulas de matemática, sobrava nas de português... era o mundo se colorindo na minha frente.... totalmente ao alcance dos meus lápis de cor...
Aprendia na maior velocidade, pois como filha única que fui na primeira infância, meus amiguinhos eram os livros que ficavam no quartinho de empregada, no fundo do apartamento que eu morava com meus pais, ali tinha uma estante gigante, que ocupava toda a parede até o teto, repleta de livros, transbordando de histórias, tinham livros de português da minha mãe, de medicina do meu pai, caixas de livros infantis, de gibis...
O quartinho tinha uma porta que dava pra cozinha e eu passava as minhas tardes ali, deitada no carpete, lendo e comentando e mostrando na cozinha o que eu tinha lido pras moças que trabalhavam lá em casa, as saudosas Maura, Salvadora, Carmelita e Ivanilze... elas se divertiam com a minha seriedade e muitas vezes vinham sentar do meu lado para ouvirem as histórias.
Certa vez achei um livro sobre sexo da Marta Suplicy, aí é que elas vieram participar mesmo, foi uma reunião, um alvoroço que durou meses no fundo da cozinha, ainda mais porque o livro tinha desenhos, quadrinhos e muitas perguntas e respostas sobre sexo. Imagine eu, no auge dos meus 8 anos, discutindo com a babá da minha irmã recém-nascida que era mentira que se perdia a virgindade com O.B.!!!! 
Fora o tempo lendo no quartinho, ainda tinham minhas dezenas de diários mega- confessionais escondidos embaixo da cama!!! esses ninguém lia! nem as amigas! e eu escrevia religiosamente! e que ainda os tenho TODOS.
Uma das últimas vezes em que estive com minha mãe, semanas antes de ela morrer, eu peguei um desses diários e começei a ler... foram muitas risadas e lágrimas também... ela chorou tadinha... porquê eu escrevia no diário as brigas que eu tinha com ela, e teve uma que eu li, da qual ela se lembrou e lembrou também que de fato daquela vez ela não tinha razão....apanhei sem motivo...ah... mas seria tão bom poder voltar lá naquele tempo nem que fosse pra dar mais uma brigadinha...
Minha vida sempre foi tão conectada com a escrita que até as brigas com meus pais eram por cartas, depois de brigar, lá ia eu enfezada pro meu quarto me atracar com calhamaços de papéis e lá se iam páginas e mais páginas que depois eram devidamente deixadas no quarto dos meus pais... isso começou na infância e perdurou até o fim... a última vez que me lembro de ter feito isso, foi há uns dois anos atrás quando eu e meu pai morávamos na Itália e eu era a responsável pela comida da casa, ele tinha me deixado um bilhete com o menu que eu deveria cozinhar, onde eu deveria limpar e mais uma série de recomendações... eu achei na época aquilo uma afronta e compilei sei lá quantas páginas chamando ele de Hitler da cozinha!!!, já que eu tenho bons dotes culinários e estava louca para mostrá-los a minha familia!hahaha hoje tudo o que eu queria era tomar uma bronca do meu pai...dado que ele também morreu há pouco tempo...
Ai quantas coisas estão nos nossos baús...quantas cartas na nossa memória...tem uma frase que não me esqueço nunca, do maravilhoso Mário Quintana que eu li aos 14 anos e é minha biblia até hoje que diz: quando deres uma opinião, nunca deixe de escrever a data.
Porque tudo muda, principalmente nós mesmos.

2 comentários:

  1. hey bi.. love your blog... finally i got intelligent friend!! xoxo love yah!
    this is my superficiallllll blog lol

    http://the-undercover-girl.blogspot.com/

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  2. Caramba, eu lembro desse livro de Sexo! Hahaha...e dessa lista do papai lá na Itália também. que engraçado! A mamãe tinha essa mania também de fazer lista e cartinha com cada um com as obrigações da casa, será que a gente vai fazer isso com nossos filhos também? Hahaha...

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