terça-feira, 27 de março de 2012

Pai de primeira viagem:


Este artigo também foi publicado pelos Sites: "Guia da Busca" http://www.guiadabusca.com.br/colaboradores/62-daniela-ervolino/798-pai-de-primeira-viagem.html

e "Portal Educação":



 Antes que me ataquem as mulheres, aviso de antemão que posteriormente terei o maior prazer em falar da Mãe de primeira viagem.

Porém o objeto de meus olhos hoje é o Pai de primeira viagem, pouco se fala dele.

Quando o casal engravida, a mãe vai gerando, sentindo as mudanças em seu corpo, em seus pensamentos, em seus desejos, em seus hormônios... A mulher, em geral, desde pequena brinca de boneca, fantasia a maternidade, os bebês, e imita sua mãe ou uma mulher a quem considere um modelo alimentando seus instintos maternais.

O homem vai acompanhando de fora todas essas mudanças, para a mulher que tem sorte de ter um homem bacana ao lado, ele tenta ser compreensivo, solícito. Mas as mudanças não crescem dentro de seu corpo, ele na maioria dos casos, não se conecta da mesma forma que a mãe nessa preparação, ele geralmente se preocupa se há espaço na casa, dinheiro no banco, se falta algo para a mãe...

Talvez por isso seja tão difícil para muitos homens que se tornam pais, os primeiros momentos, pois é um choque de novidades muito grande.

Neste fim de semana passado estive visitando um casal de amigos muito queridos que tiveram sua primeira filhinha há uma semana.

Pude observar o instinto maternal da mãe aflorado como uma leoa; ainda que não tenha tido convívio até então com bebês, era como se algo dentro dela a desse segurança e ela soubesse instintivamente como fazer tudo. Já ouvi inclusive esse comentário vindo de outra amiga jovem mãe na mesma situação. Ambas não tiveram irmãos menores, nem tiveram a vivência de ajudar a criar primos, sobrinhos ou alguma outra criança, mas apesar de todas as muitas dificuldades, algo dentro delas era maior. Elas estavam cansadíssimas, mas, percebiam que o simples fato de o bebê sentir o cheiro ou a voz delas já o acalmava.

Tive a oportunidade de presenciar o pai de primeira viagem, dando banho na bebê, cheio de boa vontade e um tanto desajeitado ainda. Podia-se ver a confusão de sentimentos e sensações nos olhos dele, normal que seja assim, de repente tudo mudou, ele não teve mudanças corporais, nem ainda é a voz dele ou o cheiro que acalmam o bebê.

 É natural que ele ainda não consiga logo de cara, se sentir pai do bebê; o bebê é ainda um ser novo, um estranho no ninho.

 O homem sente primeiro a responsabilidade, a ambivalência de sentimentos, o peso de ter iniciado um caminho sem volta, o desespero do medo de falhar, o medo de repetir os erros do próprio pai ou de não conseguir ser um pai tão bom quanto o seu, de não dar conta, de de repente não saber o que fazer, o encarar da vida adulta por tornar-se responsável e criador de uma nova vida, a sensação da perda da liberdade, a mudança da conexão com a própria mulher, que antes era um relacionamento, e agora passa a ser um relacionamento e um filho, pois ainda que um dia se separem, eles agora tem um vínculo eterno, a carência e o ciúmes da mulher com o bebê, já que antes ele era o objeto de atenção e carinho e ao menos nesta fase inicial, a mulher não terá como dar a mesma atenção a seu homem, e aí ele percebe que tudo mudou, e mudou para sempre. E que mudança não traz consigo um medo?

Primeiramente surgem todos esses sustos iniciais, que muitas vezes o homem não ousa sequer falar com a mulher, já que a vê enlouquecida, acordando de 3 em 3 horas para amamentar, sofrendo o pós-parto, se preocupando com mil coisas que envolvem aquele ser tão pequeno e tão frágil, embora não fale, todas essas angústias podem ser percebidas em sua tensão, em seu silêncio, em seu olhar.

O nascimento de uma criança pode gerar uma depressão pós-parto não só na mulher, mas também no homem. O homem carrega o símbolo do “provedor”, do ”resolvedor” de coisas, do que “salva” e “protege” a mulher e naquele momento da hora de amamentar, de trocar a fralda, de descobrir o porquê o bebê está chorando, o medo de machucar um ser tão pequeno e frágil, de saber se água do banho está fria ou quente, o homem se vê confuso e se sente inútil. Pois enquanto ele luta buscando em seu raciocínio a resposta certa para solucionar aquele choro, a mãe somente se aproxima e a criança para de chorar. Facilmente ele pode não se sentir necessário e eficiente, pode sentir como se estivesse sobrando.

Quando menino, o homem cresce escutando que “homem não chora”, que mulher é que fala demais e se ele, quando menino, estiver amoado com alguma coisa, logo o aconselham a ir jogar uma bola. Dificilmente um homem é incentivado a falar o que sente, sob pena de ser considerado frágil ou afeminado.

Aos poucos estes sentimentos de insegurança vão dando lugar a outros sentimentos de perpetuação, de idealização, de identificação nos traços, nos trejeitos da criança, e aí vai brotando o amor; no livro: “O novo pai”, do médico Malcolm Montgomery, ele relata que uma vez quando estava triste, ouviu do filho, ainda criança, a frase: “Pai, eu queria tanto ser você!”, tem coisa mais linda que isso? Ele ainda diz que “a relação afetiva do pai com seu filho tem duas fontes de motivação: a identificação dele com o filho e a identificação com seu próprio pai. A primeira é projetiva – é a esperança, o sonho, o medo; a segunda – é como dirigir olhando num espelho retrovisor, as vezes a imagem de pai que tem dentro de você aparece como um fantasma, outras como um herói.”

Quem nunca viu no próprio pai um herói? Isso pode soar amedrontador para um pai novato que está apavorado de medo de não conseguir corresponder às expectativas de ser um bom pai, mas também pode ser motivador saber que poderá ensinar tudo o que sabe a uma criança e ser o seu exemplo e isso o incentivará a ser corajoso e dar o melhor de si.

Malcolm ainda diz, que “sofremos de um excesso de mãe e escassez de pai”. Na hora destas dificuldades, muitos pais são realmente afastados, deixados de fora e muitos permanecem ali, com menos contato, com menos participação, com menos presença, por julgarem que mais atrapalham do que ajudam, ou que ali não é o lugar deles.

Sentir-se perdido, inútil e com medo são coisas que fragilizam um homem no momento onde mais a mulher necessita do apoio dele. Ele na melhor das hipóteses, apoia a mulher, a mulher apoia o bebê, e quem o apoia? Seria mais fácil se os homens tivessem o hábito de falarem sobre seus sentimentos.

Muitas crises de casal chegam junto com os bebês.

A mulher por um tempo será apenas mãe e mais nada, aos poucos, com o bebê crescendo e ganhando mais independência, ela retornará a ser novamente mulher, se for motivada e apoiada por seu homem isso tem chances de acontecer de forma mais natural. A mulher, por sua vez, deve incentivar a formação do vínculo com o pai, ainda que ele erre algumas vezes, ainda que ele aparente ser um pouco desajeitado no começo, ela deve apoiar e incluir o homem neste início.

As mulheres bem-amadas, ou seja, que tem apoio, presença e carinho do marido neste momento confuso que é a chegada do bebê, tem maiores chances de serem boas mães, pois não se sentem sozinhas no momento em que tem que se dedicarem quase que exclusivamente à criança, sentem-se seguras de que, quando puderem retornar ao papel de mulher que são, ainda poderão vivenciá-lo junto à seu homem. As que são abandonadas, ou preteridas pelo marido nesta fase, tendem a responsabilizar a criança, ainda que inconscientemente, por terem perdido seu “papel de mulher”, a companhia e o amor de seu marido.

É muito importante que o homem entenda que é uma fase, com começo, meio, e fim, e que embora sua mulher não possa dar-lhe a atenção de sempre, ela precisa do seu apoio para ter forças e motivação de seguir em frente até que tudo se acalme e os dois possam voltar a se curtirem como um casal.



segunda-feira, 5 de março de 2012

Culpa e Arrependimento:

Este artigo também foi publicado pelo Site "Guia da Busca":



Desde que o mundo é mundo, não há sob a terra aquele que nunca errou ou se arrependeu de algo, de uma bobeira qualquer a um ato mais grave.

Como seres humanos, somos todos imperfeitos, é natural que cometamos, vez ou outra, atos ou escolhas também imperfeitas.

 A trajetória humana na busca pela perfeição e aprimoramento tem o princípio de evolução e superação, mas enfeitiçados por este ideal de perfeição, esquecemos muitas vezes de respeitar nossas limitações e agir com mais flexibilidade.

Buscamos o tempo todo, termos o corpo mais belo, a conta bancária mais gorda, os títulos mais apreciados, a casa no melhor bairro, o celular mais moderno, as atitudes mais corretas. Essa busca é boa, nos faz ir além, induz a superação, a evolução, mas quando se torna obsessão, deixa de ter este caráter positivo para se tornar um fardo pesado de culpa sobre os ombros, pois, sendo os seres humanos imperfeitos é natural que por muitas vezes não consigamos ser tão perfeitos assim... e aquele ponto que escapou? E aquela decisão que não foi a melhor naquele momento? Se transforma automaticamente na famosa “culpa” que tantos carregam com muito pesar sobre os ombros e me confessam no consultório com um sofrimento enorme.

Infelizmente os erros, equívocos e arrependimentos vão sempre existir entre nós humanos, seja em qualquer âmbito da vida. Temos sempre que buscar nos superar respeitando nossos limites, e se errarmos ou não tivermos a atitude mais adequada num determinado momento, é correto arrepender-se, pois demonstra que o reconhecimento de um erro e um aprendizado sobre o que passou, porém o deixa de ser quando se torna “culpa”, e quem a sente sabe bem do que estou falando, é um ódio reprimido voltado para o interior da pessoa, é um julgamento severo e um castigo que não cansa de martirizar e desvalorizar a própria pessoa, resultando numa baixa-autoestima e na perda da oportunidade de ir além, aprendendo com consciência sobre o que aconteceu.

Esclarecendo um pouco mais estes dois termos tão confundidos, arrependimento é quando adquirimos consciência de que poderíamos ter feito diferente e não o fizemos, segundo Maria Teodora Ribeiro, é uma dor que nasce da consciência do que poderia realmente ter feito melhor, ou um dano que poderia ter evitado a alguém ou a própria pessoa.

 Culpa, é quando a pessoa exige de si mesma ter feito diferente alguma coisa que não poderia ter feito diferente, pois estava realmente além das possibilidades da pessoa naquele momento, este é um sentimento que leva a autopunição e a uma baixa-autoestima.

O arrependimento, ainda segundo Maria Teodora, leva a um reconhecimento na pessoa de um erro cometido que a empurra em direção a reparação pois ao invés de culpa, a pessoa sente responsabilidade.

Aí está a chave para aprender com o que aconteceu e buscar a evolução aí neste ponto, superar este limite, para numa próxima situação usar este aprendizado. Culpar-se e castigar-se não faz voltar o tempo, nem diminuir a própria dor e a dos que foram feridos, é importante lembrar-se que a vida é um ciclo, o tempo não volta, mas novas oportunidades para errar ou acertar estarão acontecendo sempre.