segunda-feira, 31 de outubro de 2011

30 anos:

Este artigo foi publicado também pela Revista "Carpe Lounge":

e pelo Site "Guia da Busca":


Não só na carreira clínica, como nos meus relacionamentos pessoais,  percebo como o fator 30 pesa para a maioria das mulheres e até para muitos homens.
 É só você perguntar quantos anos tem e a pessoa começa a se engasgar, fala sussurando, faz piadinha, ninguem diz 30 assim limpo, como quem diz 20. Como se fosse uma vergonha, um segredo falar 30, shhhh! lê baixooo!!
Mas porquê será que este número é mais temido do que sexta-feira 13?
Quando eu tinha 26, dizia que tinha 25... quem sabia da minha mentira me questionava..."Daniela, mas mentir um ano só, que diferença isso faz?" Fazia muita, era apenas um ano, mas tinha um peso enorme.
Para mim fazer 29 foi mais difícil que fazer 30, porquê senti como se só restasse um ano para conseguir concretizar tudo aquilo que não consegui em todos os 29 anos da minha vida.
As pressões sociais geralmente não tem fundamento e são muito cruéis, nivelando por baixo uma gama imensurável de fatores... dizem que a mulher tem que casar, ter filhos, ter uma carreira bem sucedida, uma vivência no exterior, falar dúzias de línguas e o pior de tudo....que aos 30 fica velha!!! e tem que conseguir tudo isso nesse curto espaço de tempo. 
E se chega aos 30 sem concluir tudo isso, fracassou.
É uma pressão muito forte e um grande desespero, até que um dia as 30 badaladas por fim batem e você, Cinderela,  vê que não virou uma abóbora!! 
Realmente os 30 trazem uma grande mudança... eu senti que algo estava mudando dentro de mim de mansinho aos 28, aos 29 foi se intensificando, e aos 30.... BUM! a maturidade fez um buraco e entrou! maturidade, não no sentido de se considerar sabida de mais, ou dona da verdade, pois o bom é estar verde para sempre aprender, mas no sentido de ganhar serenidade, auto controle, fazer as pazes com a vida, com as neuras, mensurar o tamanho real de cada coisa e qual o valor daquilo para mim. Como se todas essas pressões que vem de fora se desmanchassem e a gente ficasse mais dona de si para assumir o que de fato gosta ou não gosta, o que de fato quer ou não quer, o que é seu e o que é dos outros, o que era um grande sofrimento e causava medo e ansiedade, hoje é uma bobagem.
Aí você pode me falar, a gente é mais bonita com 20 do que com 30? assumo que com 20 meu corpo não era tão bonito como agora mas os cabelos brancos nem pensavam em brotar da minha linda cabeçinha...onde agora fazem festa... porém, junto com eles também brotam idéias maravilhosas que antes nem pensavam em existir...
Acho que para tudo na vida existe um tempo, uma fase, uma época, os 20 são maravilhosos, intensos e inconsequentes... mas é preciso respeitar e aceitar que terminem, pois se tentarmos prolongar uma fase ou tempo que já não cabe mais, impedimos o que está por vir de acontecer...e se a vida é crescer, então vamos em frente, levando com a gente tudo de bom que aprendemos e deixando pelo caminho o que não nos serve mais... 
Assim concluo que é muito bom ser Trintage, e que eu deveria ter nascido assim!
 Essa sim é a verdadeira maior idade! as mulheres não deveriam se envergonhar e ficar se engasgando para dizer que tem 30, elas deveriam com o maior orgulho dizer em alto e bom som: tenho 30! como quem diz, já sou bem resolvida com minha vida, com meu corpo e sei do que eu gosto! e mais, os 30 deveriam ser celebrados assim como são os 15, com uma festa especial onde finalmente a mulher tem um encontro com ela mesma, dá adeus as inseguranças de menina para tomar posse de si mesma como mulher.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Relação de Casal:

Este artigo foi publicado também pelo Site "Guia da Busca":


Já dizia o poeta “é impossível ser feliz sozinho”, o ser humano tem em sua natureza o movimento de buscar agrupar-se, relacionar-se.
Estar só sentado num restaurante é uma coisa que chama a atenção e mesmo que a pessoa esteja ali por livre escolha e feliz, a imagem que a maioria faz de uma cena assim é de tristeza, como se: pobre daquele que não tem uma companhia para jantar.
Sendo assim, os solteiros buscam a todo tempo uma relação, e os comprometidos como melhorarem a sua, já que o maior desejo do ser humano, relacionar-se, não é tarefa nada fácil.
Todos que já nos apaixonamos e vivemos um amor alguma vez na vida sabemos disso.
Surgem dificuldades, conflitos, ciúmes, divergências e o que era um doce sonho para a ser um pesadelo, brigas, discussões, desentendimentos, mágoas e ressentimentos.
Se todos nós sabemos o perigo que corremos e ainda assim queremos nos relacionar, compartilhar nossas vidas, vivenciar o amor, tendo sempre como fiel companheira a esperança de que dessa vez vai ser diferente!
Tudo começa num mar de rosas, numa lua-de-mel e depois de um tempinho... batata! Os problemas começam a aparecer!
Culpa do mundo moderno? diriam uns; a culpa é dos homens que são “sem vergonha”! Diriam outros!, ou ainda: a culpa é das mulheres que são muito oferecidas, grita um outro lá no fundo do bar!
Todo início de relação, como diz uma escritora que gosto, é “uma construção de ilusões”, onde projetamos no outro tudo aquilo que falta em nós, tudo o que queremos, ansiamos, precisamos, e como um espelho, o outro acaba refletindo o que queremos ver.
Passado esse período de encantamento, de “brincar-de-casinha”, é que começa de fato a construção de um relacionamento, onde os tijolinhos das diferenças de cada um são unidos com as equivalências, concessões, tolerância.
Por que muitas vezes temos a sensação de tudo começa a se complicar quando está dando certo?
São muitos fatores, desde o que absorvemos na nossa infância, até o que já vem de mais antigo conosco, através do tempo, das gerações passadas de nossa família e também de nossas próprias vidas passadas.
Existem coisas que fazem parte do destino cármico de cada um e quanto a essas cabe a pessoa a viver e se superar, mas existem outras, como certas dificuldades ou respostas automatizadas a certas situações ou medos, que carregamos nem necessidade, por não termos consciência disso ou por um hábito que faz parte do passado e não tem mais função no presente e assim acaba por comprometer o futuro, nos sabotando em nossas relações.
Olhar um bebê recém-nascido e pensar num ser começando do zero, é uma idéia equivocada, aquele pequeno ser traz consigo uma gama de conteúdos, traz todo o resultado de suas vivências passadas, padrões de comportamento e também toda a sua herança familiar, que neste caso, nada tem haver com bens materiais e sim bens emocionais e espirituais.
E assim pequenino vai somar a tudo isso que já vem com ele, toda a vida que tem pela frente.
Mais tarde tudo isso influenciará, na maneira como irá se relacionar, seja com um parceiro, seja com as outras pessoas.
Ou seja, a melhor maneira de relacionar-se bem é começar por conhecermos melhor a nós mesmos, desmitificar a ideia ignorante de que “terapia é para maluco!”, e considerar a terapia o que ela é, uma oportunidade de aprimoramento pessoal e de devolver ao passado aquilo que não nos serve mais, aquilo que nos atrapalha e nos impede de evoluir, de vencer a si mesmo.
Ao tomar conhecimento dos nossos conteúdos inconscientes, das nossas necessidades e tudo o que trazemos conosco, nos tornamos seres mais equilibrados e conscientes capazes de ter relacionamentos mais satisfatórios e menos conflituados.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Baú de Escritos

Estou gostando muito de ler uma escritora, ela é jovem, tem a minha idade, tem dois livros publicados e pelo que vi até agora, ela já fez um monte de coisas, escreveu colunas, mediou debates, encontros culturais, uma série de coisas bacanas e é colunista de uma revista muito bacana, chama-se Carol Teixeira.
Acabei de ler um texto dela, onde ela contava como foi que chegou até quem ela é hoje, de como começou sua paixão pela escrita etc, quando li, pensei... mas que história parecida com a minha!?!
Por que será que também não segui minha paixão pela escrita? por que sempre a guardei em gavetas? Sim, é verdade que sempre ganhava os concursos de redação das escolas que estudei e já tive um conto premiado publicado em um livro de escola. 
Também é verdade que meus amigos, ou melhor, alguns deles, gostam de ler o que escrevo.
E mais verdade ainda que eu amo escrever tanto quanto ler. Mas acho que faltou incentivo, uma diferença muito grande entre eu e esta escritora a qual estou fã. Ela conta numa entrevista que foi sempre muito incentivada pela mãe. 
Meus pais nunca me incentivaram declaradamente, mas o fizeram, me possibilitando o acesso a tantos livros e sendo exemplos de pessoas que leram muito, muito mesmo.
Lembro-me com a exatidão como se fosse a minutos atrás, eu pequena ansiosa desenhando letras em todos os papéis que via pela casa, podia ser o avesso de um pacote de cigarros hollywood do meu avô, ou o papel do saco de pão da padaria, e corria, literalmente corria para a minha mãe, que era professora  de português na esperança desesperada que as minhas letras naqueles pedaços de papéis tivessem formado alguma palavra. Eu ainda não sabia escrever. Mas a pressa era tanta, que eu não conseguia esperar; Lembro quando uma vez ela me disse rindo: olha! aqui você quase escreveu o nome do vovô Hélio, Dani!
Lembro também, que um dia vi na TV um programa que dizia que se a pessoa escrevesse palavras em vermelho e letras de forma e fosse mostrando todos os dias e falando em voz alta o que estava escrito à bebês, eles aprenderiam a ler!!!! Briguei com minha mãe por ela não ter feito isso comigo. 
Naquela época era moda as crianças pularem de série para ficarem mais "adiantadas" na escola, e minha mãe como professora era terminantemente contra, dizia que isso traumatizava as crianças, que tudo tinha seu tempo de ser aprendido e que não se devia pular etapas... ah... mas eu queria tanto ler...
Até que finalmente eu cheguei ao pré... com 6 anos! E então finalmente a tia Vera pode me ensinar a somar corretamente as letras do meu papel de pão para enfim.... resultarem em palavras!
Não existiu aluna mais ávida do que eu. O que faltava de entusiasmo e entendimento nas aulas de matemática, sobrava nas de português... era o mundo se colorindo na minha frente.... totalmente ao alcance dos meus lápis de cor...
Aprendia na maior velocidade, pois como filha única que fui na primeira infância, meus amiguinhos eram os livros que ficavam no quartinho de empregada, no fundo do apartamento que eu morava com meus pais, ali tinha uma estante gigante, que ocupava toda a parede até o teto, repleta de livros, transbordando de histórias, tinham livros de português da minha mãe, de medicina do meu pai, caixas de livros infantis, de gibis...
O quartinho tinha uma porta que dava pra cozinha e eu passava as minhas tardes ali, deitada no carpete, lendo e comentando e mostrando na cozinha o que eu tinha lido pras moças que trabalhavam lá em casa, as saudosas Maura, Salvadora, Carmelita e Ivanilze... elas se divertiam com a minha seriedade e muitas vezes vinham sentar do meu lado para ouvirem as histórias.
Certa vez achei um livro sobre sexo da Marta Suplicy, aí é que elas vieram participar mesmo, foi uma reunião, um alvoroço que durou meses no fundo da cozinha, ainda mais porque o livro tinha desenhos, quadrinhos e muitas perguntas e respostas sobre sexo. Imagine eu, no auge dos meus 8 anos, discutindo com a babá da minha irmã recém-nascida que era mentira que se perdia a virgindade com O.B.!!!! 
Fora o tempo lendo no quartinho, ainda tinham minhas dezenas de diários mega- confessionais escondidos embaixo da cama!!! esses ninguém lia! nem as amigas! e eu escrevia religiosamente! e que ainda os tenho TODOS.
Uma das últimas vezes em que estive com minha mãe, semanas antes de ela morrer, eu peguei um desses diários e começei a ler... foram muitas risadas e lágrimas também... ela chorou tadinha... porquê eu escrevia no diário as brigas que eu tinha com ela, e teve uma que eu li, da qual ela se lembrou e lembrou também que de fato daquela vez ela não tinha razão....apanhei sem motivo...ah... mas seria tão bom poder voltar lá naquele tempo nem que fosse pra dar mais uma brigadinha...
Minha vida sempre foi tão conectada com a escrita que até as brigas com meus pais eram por cartas, depois de brigar, lá ia eu enfezada pro meu quarto me atracar com calhamaços de papéis e lá se iam páginas e mais páginas que depois eram devidamente deixadas no quarto dos meus pais... isso começou na infância e perdurou até o fim... a última vez que me lembro de ter feito isso, foi há uns dois anos atrás quando eu e meu pai morávamos na Itália e eu era a responsável pela comida da casa, ele tinha me deixado um bilhete com o menu que eu deveria cozinhar, onde eu deveria limpar e mais uma série de recomendações... eu achei na época aquilo uma afronta e compilei sei lá quantas páginas chamando ele de Hitler da cozinha!!!, já que eu tenho bons dotes culinários e estava louca para mostrá-los a minha familia!hahaha hoje tudo o que eu queria era tomar uma bronca do meu pai...dado que ele também morreu há pouco tempo...
Ai quantas coisas estão nos nossos baús...quantas cartas na nossa memória...tem uma frase que não me esqueço nunca, do maravilhoso Mário Quintana que eu li aos 14 anos e é minha biblia até hoje que diz: quando deres uma opinião, nunca deixe de escrever a data.
Porque tudo muda, principalmente nós mesmos.